domingo, 9 de junho de 2013

Análise do poema "Adormecida", de Castro Alves

 Os dois posts, "Castro Alves e a poesia amorosa sensual" e "Análise do poema Adormecida, de Castro Alves" já haviam sido publicados em outro blog. Pretendo retomar as publicações dele em breve. Clique aqui para abrir o blog em uma nova janela: http://rosangelacardosomarques.blogspot.com.br/


Adormecida

Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberta o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, um pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos – beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P’ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! – tu és a virgem das campinas!
“Virgem! – tu és a flor da minha vida!...”

Na 1ª estrofe, o poeta cria através da percepção subjetiva (“EU” lírico) a imagem da mulher amada. Ela é construída por uma visão de sensualidade através do uso dos adjetivos (encostada molemente, quase aberto, solto, descalço). Enquanto que os elementos noite, rede, roupão, cabelo e tapete, criam o ambiente íntimo desta mulher, sugerindo a cumplicidade da intimidade e a proximidade dele e da amada.
Depois, na 3ª estrofe, o poeta utiliza elementos da natureza para insinuar o clima de sensualidade e encantamento que eleva essa mulher.
Obervamos na 3ª e  4ª estrofe, ao personificar os elementos da natureza (galhos encurvados / indiscretos entravam pela sala.../ Iam na face trêmulos beijá-la.) e colocá-los em contato físico com a amada o poeta constrói uma cena de sensualidade e desempenho amoroso.
A utilização repetitiva de versos no pretérito imperfeito (estremecia / serenava / beijava) e a utilização das reticências criam um clima de erotismo recatado pela interação e troca contínua de afagos entre a moça e a flor.
Na 5ª estrofe, o poeta infantiliza a amada dando a ela um caráter virginal (criança / negras tranças).
A seguir, na 6ª estrofe, ele retoma o caráter erótico pelo contato físico da natureza com essa mulher.
Na última estrofe subjetivamente o poeta mantém uma postura típica do lirismo platônico e com muita sensibilidade enaltece o caráter virginal da amada.

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